sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O monstro do medo e o espírito questionador


“Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” Gn 2: 7 “E o Senhor lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gn 2: 17
Deus quando fez o homem criou-o corpo, alma e espírito e como tal com toda potencialidade em si de experimentar, questionar, aprender, criar, raciocinar... Se Deus fez-nos assim, questionadores e curiosos em essência, da onde nos provem o medo de questionar, a conformação de aceitar as coisas como são e pronto?
Para aqueles que entendem Gênesis como uma grande parábola e também para aqueles que o entendem literalmente proponho esta discussão:
É tão verdade que Deus nos criou como questionadores, que ao formar o homem Ele logo lhe deu uma ordem para que este não comesse do fruto de uma determinada árvore.
Se coloque por um instante no lugar de Adão. Deus lhe diz: não coma de tal árvore senão morrerás! Conseqüentemente o que você instintivamente responderia, nem que seja em pensamento? Por quê? Porque morrerei se dela comer?
Deus, como sabe de todas as coisas, sabia a dúvida que tal ordem geraria no homem, pois ele conhece sua criação. Aí você me diz: então Deus era sarcástico a ponto de induzi-lo ao erro?
Não, pois Ele esperava que o homem, como ser pensante e questionador, viesse pessoalmente a Ele e lhe perguntasse o porquê que ele morreria.  Deus é a Resposta, o homem é a pergunta.
Deus em sua infinita sabedoria criou-nos justamente para que conosco pudesse compartilhar seu ilimitado conhecimento. Criou-nos para perguntar, e sermos respondidos eternamente.
E o interessante é que Adão não perguntou a Deus o porquê de tal ordem e ficou remoendo dentro de si aquilo, tentando achar respostas de si mesmo e não do Criador. O homem tem sede de entendimento, de respostas, de sabedoria. Esta é a sua essência e o seu prazer: ser respondido. Adão, logicamente não acharia uma resposta verdadeira senão do próprio Criador.
Existia um ser que também conhecia o potencial questionador do homem e investiu em tal potencial. A serpente.
Ela, astutamente, sabia que Adão e Eva não entendiam o porquê de tal proibição e questionavam tal ordem. Repito: o problema não é o questionar e sim o não questionar. A serpente sabia que o homem não havia perguntado a Deus o porquê e investindo num plano simples resolveu-lhes dar uma resposta. Resposta por sinal errada:
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse a mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.” Gn 3: 1-6
Neste momento o homem encontrou resposta para sua dúvida: seremos iguais a Deus e não morreremos. Resposta errada. Só Deus suporta o conhecimento do bem e do mal na medida em que tem todas as respostas já que conhece tudo. O homem por si só não suportaria conhecer o bem e o mal e não ter respostas para ambos, para tantas contradições, pois é um ser totalmente curioso e certamente morreria pela angústia da falta de entendimento.
Mas eles acharam que Deus estava-lhes escondendo a preciosidade do entendimento, e encontrou na árvore um presente para tal anseio. Note na parte acima quando Eva diz: “árvore desejável para dar entendimento”, veja como o homem anseia entender! E realmente ele teria entendido tão somente se tivesse perguntado ao Criador. Teria a resposta certa, e não pereceria pela falta de entendimento.
Note aqui a diferença entre conhecimento, que já nos foi dado, basta nos dispormos á ele, e entendimento, que buscamos incessantemente, e que nos é dado por meio de iluminação! Podemos conhecer e, no entanto, não entender.
O problema do homem é em buscar entendimento que não seja da parte do Criador (que tem todas as respostas), e fica sujeito assim a enganosas respostas de si mesmo ou de um ser exterior. Veja ao longo da história como a humanidade, na busca do entendimento, se contradiz na medida em que sempre refuta respostas antigas considerando-as ultrapassadas.
Diante de tudo isso vemos que o homem é um ser questionador, faminto por entendimento, e que tal qualidade foi lhe dada por Deus como fonte de novidades de vida. É inconcebível, por isso, a teoria de que não devemos questionar algumas coisas, principalmente as que se relacionam ao próprio Deus. O ser humano não vai parar de questionar, pois ele é em si questionador. O próprio Deus espera nossas perguntas, pois Ele á a resposta. Ele completa o homem e sabe que só assim o homem encontra sua realização. Ele nos criou assim.
A igreja (instituição hierárquica, pouco cristã, dogmática e terrena), por muito tempo tentou desprover o homem de tal sede de entendimento e de tal natureza questionadora, imputando-lhe condenações imorais e angústias terríveis se tão somente ele questionasse. Seja escancaradamente, seja disfarçada de uma falsa espiritualidade ela tentou abafar a voz crítica interna do homem amordaçando-lhe com a mordaça do medo e da rejeição. Lançou as dúvidas do homem na fogueira da intolerância e da falta de entendimento, causando-lhe impacto profundo na sua liberdade instintiva questionadora e simples.
Devemos sim questionar, pois, somos em essência questionadores. A falta de questionamento leva o homem a uma estagnação em sua totalidade de vida, pois de certa forma as suas perguntas internas são as fomentadoras de sua vitalidade enquanto ser criado para respostas. Água parada fica estagnada! Veja por exemplo na idade média, como a opressão ao questionamento gerou uma época terrível de estagnação, conhecida também como idade das trevas, pela falta de entendimentos novos da realidade humana. Tal opressão e estagnação geraram forte repercussão até hoje, mesmo que atualmente o disfarce da “liberdade de expressão” tente ocultar o medo e a ansiedade do homem ao se deparar com um novo questionamento.
Lembrando sempre que tais questionamentos devem-se apoiar naquele que nos provê verdadeiras respostas, o Criador. Tal busca Divina por respostas não esta distante à medida que a plenitude do Criador se encontra dentro de nós mesmos. A reflexão profunda de si mesmo e a consciência de que Deus, em seu Espírito, se manifesta dentro de nós, guia-nos ao conhecimento da verdade e ao entendimento das coisas que nos estão ocultas. Revelação!
O Céu, em seu significado filosófico, seria, assim, o livre questionamento humano em contato direto com as infinitas respostas da Verdade, saciando-nos, então, constantemente e completamente com o livre entendimento dos mistérios da Vida. Conheceremos e entenderemos! Satisfação total!
O tempo chegou em que o homem assumirá o seu caráter questionador desafiando as instituições fomentadoras do medo e repressão, levando-nos todos há uma maior compreensão (e não total, logicamente) da essência humana, do seu significado e do seu papel enquanto ser criado à imagem e semelhança de seu Criador. Por mais que exista a mentira (serpente), só a Verdade é eterna e por isso persiste. Mesmo que nossos questionamentos nos levem muitas vezes á respostas erradas, não devemos temê-los, pois de alguma forma seremos enfim respondidos pela suprema Verdade que está em nós, só não devemos cair no mesmo erro, fazendo de nossas respostas verdades absolutas e não questionáveis aos nossos irmãos. Somos todos questionadores e sujeitos á questionamentos. Busquemos, pois, a Verdade que está em nós, saciando-nos enfim, das Respostas ocultas Nele.Questione!

Um comentário:

  1. Questinar faz parte da minha essência... o desejo do meu coração é de que um dia eu possa me levantar em uma "igreja" e sem medo de ser atingido pelos olhares preconceituosos dos santos, poder falar e questionar e não somente ter que ouvir e obedecer um pastor que nem de longe é mais santo do que uma prostituta que vende seu corpo na esquina de cima da "casa do Senhor".
    Sidney

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